ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO
SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA,
EM 09-5-2002.
Aos nove dias do mês de maio
do ano dois mil e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio
Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e treze minutos,
constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os
trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de
Cidadão de Porto Alegre ao Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez, nos termos do
Projeto de Lei do Legislativo n° 003/02 (Processo nº 0016/02), de autoria do
Vereador Raul Carrion. Compuseram a MESA: o Vereador Reginaldo Pujol, 2° Vice
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor
Miguel Rossetto, Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; a Deputada
Estadual Jussara Cony, representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul; o Deputado Federal Henrique Fontana; o Senhor Carlos Alberto
Neves, Secretário Municipal Substituto da Produção, Indústria e Comércio e
representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Senhor Renato
Oliveira, Secretário Estadual da Ciência e Tecnologia; o Senhor Geraldo Lucio
Goes Cruz, Coordenador da Comissão Gaúcha em Defesa do Monopólio Estatal do
Petróleo e da PETROBRAS; o Senhor César Antônio Przygodzinski, representante do
Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio Grande do Sul; o Coronel Pedro
Arbues Martins Alvarez, Homenageado, e esposa; o Vereador Raul Carrion, na ocasião,
Secretário "ad hoc". A seguir, o Vereador Reginaldo Pujol, presidindo
os trabalhos, convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino
Nacional, registrou a presença do Senhor Raul Pont, ex-Prefeito Municipal de
Porto Alegre e solicitou ao Vereador José Fortunati que assumisse a direção dos
trabalhos. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos
Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Raul Carrion, em nome das
Bancadas do PC do B, PPB, PTB, PFL, PMDB, PL, PHS, PPS e PSL, teceu
considerações acerca da trajetória pessoal e política do Coronel Pedro Arbues
Martins Alvarez, destacando a aprovação unânime do Projeto de Lei do
Legislativo que concedeu essa honraria a Sua Senhoria e abordando aspectos
alusivos à atuação do Homenageado na história política brasileira. O Vereador
Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, cumprimentou o Coronel Pedro Arbues
Martins Alvarez pelo recebimento do Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre, afirmando a justeza da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de
Porto Alegre a Sua Senhoria e comentando as características de combatividade e
integridade que sempre se fizeram presentes na atuação política desempenhada
pelo Homenageado. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, homenageou
o Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez, discorrendo sobre a atuação política de
Sua Senhoria, notadamente no período da História Contemporânea em que o Brasil
foi governado por militares e relatando episódios da vida do Homenageado, no
que tange à luta desempenhada em defesa do monopólio estatal do petróleo. Após,
o Senhor Presidente convidou o Vereador Raul Carrion a proceder à entrega do
Diploma e da Medalha alusivos ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre
ao Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez, concedendo a palavra ao Homenageado,
que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os
presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais
havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os
trabalhos às vinte horas e trinta e seis minutos, convocando os Senhores
Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima sexta-feira, à hora regimental.
Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores José Fortunati, Reginaldo Pujol
e Nereu D'Avila, este nos termos do artigo 27, parágrafo único, do Regimento, e
secretariados pelo Vereador Raul Carrion, como Secretário "ad hoc".
Do que eu, Raul Carrion, Secretário "ad hoc", determinei fosse
lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será
assinada pelos Senhores 1° Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Damos início a esta Sessão Solene de
outorga do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Cel. Pedro Arbues
Martins Alvarez.
Compõem
a Mesa o Ex.mo Dr. Miguel Rosseto, Vice-Governador do Estado, que
nos honra com a sua presença; a Ex.ma Sr.ª Deputada Jussara Cony,
ex-integrante desta Casa, que nos dá enorme alegria em vê-la mais uma vez
conosco e que aqui representa a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande
do Sul; o ilustre homenageado, Cel. Pedro Arbues Martins Alvarez e sua
excelentíssima esposa; o Ex.mo Sr. Deputado Federal Henrique
Fontana, ex-integrante deste sodalício; o Sr. Carlos Alberto Neves, Secretário
Substituto da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio, representando a
Prefeitura Municipal; o nosso colega proponente desta homenagem, Ver. Raul
Carrion; o Ex.mo Sr. Renato Oliveira, Secretário de Estado da
Ciência e da Tecnologia; o Dr. Geraldo Lúcio Goes Cruz, Coordenador da Comissão
Gaúcha em Defesa do Monopólio Estatal do Petróleo e da PETROBRÁS; o Dr. César
Antônio Przygodzinski, representante do SINDIPETROLEIROS do Rio Grande do Sul.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Executa-se
o Hino Nacional.)
Antes
de transferir a palavra ao ilustre Ver. Raul Carrion, proponente desta Sessão
Solene, que falará também pelas Bancadas do PC do B, PTB, PPB, PFL, PMDB, PL,
PHS, PPS e PSL, permito-me, correndo o risco, inclusive, de algum arranhão no cerimonial
da Casa, dizer da minha satisfação e até da minha honra de presidir esta
solenidade.
Porto
Alegre, que aqui se encontra representada por diferentes segmentos sociais, não
desconhece a minha posição política - liberal convicto que sou. Isso não impede
que eu tenha um profundo respeito ao nosso homenageado, respeito esse que tive
o ensejo de manifestar ao Ver. Raul Carrion quando da proposição vitoriosa por
unanimidade na Casa, eis que muito jovem aprendi a reconhecer o valor daquelas
pessoas que, de forma convicta, sustentam as suas posições com galhardia, como
o Coronel Pedro Alvarez ao longo do tempo tem sustentado as suas posições.
Por
isso, quero externar, no início dos trabalhos, esse privilégio especial que
tenho de presidir esta Sessão. Acho que o Ver. Raul Carrion foi extremamente
feliz ao escolher o nome do nosso homenageado, eis que ele é um paradigma que a
sociedade porto-alegrense, a sociedade gaúcha indiscutivelmente proclama e
reconhece, independente das nossas posições políticas.
Eu,
muito jovem, repito, acho que na primeira eleição de que participei, vi ser
escolhido Vereador desta cidade de Porto Alegre, integrante desta Casa
Legislativa, com a maior votação até então registrada na história política do
Município, o Coronel Pedro Alvarez. Pela legenda, penso eu, da Aliança
Republicana Socialista, sigla na qual se colocavam aqueles que, pensando na
linha filosófica e doutrinária que ele pensa, precisavam, naquele arremedo de
democracia, esconder-se para poder ocupar postos legislativos. Sei da sua luta
em defesa dos seus pontos de vista, especialmente em defesa da campanha “O
petróleo é nosso”.
Aqui
conosco está o Ver. Isaac Ainhorn que bem acentuava essa circunstância, quando
da votação do Projeto de Lei do Ver. Raul Carrion. Isso tudo me dá essa
prerrogativa, esse privilégio de poder presidir esta Sessão Solene no dia de
hoje.
Dito
isso - digo de coração, eis que tenho profundo respeito às pessoas coerentes e
com posição política, verdadeiros exemplos -, transfiro a palavra ao orador
especial da noite, proponente da iniciativa, o Ver. Raul Carrion.
(Pausa.)
Quero
anunciar a presença na Casa do Presidente deste Legislativo, Ver. José
Fortunati, a quem solicito que venha ocupar a direção dos trabalhos em função,
inclusive, da relevância do acontecimento que hoje estamos tendo em nossa Casa.
Também anuncio a presença entre nós do ex-Prefeito desta Cidade, Dr. Raul Pont,
a quem eu ofereço as homenagens da Casa.
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Raul Carrion está com a palavra.
O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Registro também a presença da
Sociedade Amigos de Livramento, terra natal do nosso homenageado.
Inicio
o meu pronunciamento nesta Sessão Solene, na qual entregaremos o Título de
Cidadão de Porto Alegre ao Coronel Pedro Alvarez, destacando o fato de que esta
homenagem foi aprovada pela totalidade dos Vereadores desta Casa, e o Projeto,
que eu tive a honra de protocolar, assinado pela totalidade dos Vereadores
desta Casa. Unanimidade rara entre homens e mulheres de diferentes partidos
políticos, o que já por si revela o perfil desse homem que, a partir de hoje,
honrará Porto Alegre como mais um dos seus bravos e combativos cidadãos.
É
com muita honra que aqui estou, em nome do meu Partido Comunista do Brasil, o
PC do B, homenageando esse soldado, que conheci em 1966, quando eu era
estudante da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
à frente do cortejo que percorreu as ruas da Cidade carregando o corpo do
Sargento Manoel Raimundo Soares, assassinado pelo regime militar. Nesta
ocasião, encontrei por primeira vez o indômito Coronel Alvarez. Nós que
iniciávamos uma caminhada de lutas, víamos esse homem legendário que todos
apontavam dizendo: “Aí está o Coronel Alvarez”. Ali conhecemos esse homem.
Esse
soldado-cidadão, que hoje homenageamos, nunca se conformou com o fato de um
país tão vasto e tão rico como o nosso ser tão submisso aos interesses
estrangeiros e possuir uma população tão pobre. Ao longo de toda a sua vida,
sem temer as dificuldades, ele sempre lutou por uma pátria livre, soberana e
mais justa. O Soldado Pedro - como tantos outros pedros, joãos e josés que
fazem essa nossa grande Nação - compreendeu, desde cedo, que o seu dever como
militar não era apenas defender o Brasil de uma eventual invasão externa. Por
sua luta indômita foi inúmeras vezes "acusado" - e se orgulhava disso
- de ser comunista; pois os comunistas, da mesma forma que ele, sempre estavam
junto ao povo, organizando a luta contra os seus inimigos - nacionais ou
estrangeiros, armados ou não.
O
Coronel de Cavalaria Pedro de Arbues Martins Alvarez nasceu em Santana do
Livramento, no dia 29 de outubro de 1918, e ingressou no Colégio Militar de
Porto Alegre em 1932. Em 1938 ingressou no curso preparatório para oficiais da
Escola Militar do Realengo no Rio de Janeiro. Concluído o curso foi servir em
sua cidade natal. A maioria dos recrutas eram analfabetos, subalimentados e
desdentados, refletindo as tremendas desigualdades sociais do País. Ali o nosso
Soldado do Povo adquiriu a convicção
de que era necessária uma profunda transformação política e social para mudar o
Brasil. O jovem oficial passou a estudar com entusiasmo os problemas e a
História do Brasil. Acompanhou o desenvolvimento da II Guerra Mundial, em
especial a luta decisiva entre o Exército
Vermelho e o Exército Nazista,
não escondendo a sua simpatia pela epopéia soviética. Em 1945 foi promovido a
1.º Tenente e cursou a Escola de Motomecanização. Concluído o curso, tornou-se
Capitão, e, depois de algum tempo, foi enviado ao 2.º Regimento de Cavalaria
Mecanizada da Serraria, em Porto Alegre. Engajou-se no Movimento Militar
Nacionalista, que aglutinava os militares que defendiam a soberania nacional e
os interesses do povo. A principal bandeira desse Movimento era a luta pelo
monopólio estatal do petróleo. No grande ato da campanha “O petróleo é nosso”,
realizado em Porto Alegre, compareceu o Capitão Alvarez, com mais onze
oficiais. Desde então, tornou-se um dos principais líderes do nosso Estado, da
campanha “O petróleo é nosso”, e persona
non grata aos entreguistas nas Forças Armadas.
A
campanha “O petróleo é nosso” levou Vargas a remeter um projeto de lei ao
Congresso Nacional criando a PETROBRÁS, mas que ainda permitia a exploração de
petróleo brasileiro por empresas estrangeiras sediadas no País. Sob pressão
popular, o Congresso rejeitou o projeto original e instituiu o monopólio
estatal do petróleo.
Servindo,
no início da década de 50, em Santa Maria, implantou relações as mais estreitas
e democráticas possíveis entre os militares e a população, granjeando grande
simpatia entre a tropa e a população. No desfile do 7 de Setembro daquele ano,
no momento em que prestava continência ao Palanque Oficial a bordo de um jipe,
o povo começou a gritar: “Capitão do Povo! Capitão do Povo”, alcunha que nunca
mais o abandonou.
Em
51, o Capitão do Povo foi eleito presidente do Circuito Militar daquela Cidade
e presidente de honra da União Popular e Democrática em Defesa da Paz e Contra
a Carestia. Nas eleições municipais daquele mesmo ano foi o Vereador mais
votado da Cidade, com o apoio dos comunistas.
Em
1954 foi promovido a Major. Nesse mesmo ano, candidatou-se a Deputado Estadual,
obtendo votação individual superior a quarenta e quatro deputados eleitos,
ficando - por razões de legenda - na primeira suplência.
Em
55 assumiu o mandato por um único mês, apresentando dois importantíssimos
projetos. No primeiro deles, propôs uma reforma agrária baseada no conceito
inovador de “terras socialmente não-aproveitadas”, origem do conceito de
“função social da propriedade”, que seria adotado muitos anos depois pela
Constituição de 88.
O
segundo projeto criava uma contribuição para fins assistenciais baseada na
tributação das grandes fortunas, algo que até hoje não foi conquistado, devido
à resistência das elites enriquecidas.
Mas
sua atuação não se restringiu à área legislativa. Líder popular, levava ao
Plenário da Assembléia as lutas e reivindicações dos mineiros, dos ferroviários,
dos oprimidos em geral.
No
ano de 55, apoiado por comunistas e socialistas, fez oito mil setecentos e
sessenta e oito votos, elegendo-se o Vereador com uma das maiores votações da
história de Porto Alegre, só superada, proporcionalmente, pelo atual Presidente
da Casa, Ver. José Fortunati.
Em
56, foi eleito Presidente da Liga de Emancipação Nacional e da Associação
Brasileira de Defesa dos Direitos do Homem.
Em
57, foi escolhido 2.º Vice-Presidente do Movimento Nacionalista do Rio Grande
do Sul.
Nas
eleições de 58, foi eleito Deputado Estadual, sendo o oitavo mais votado
naquele pleito. Depois de oito meses, teve o seu mandato cassado por iniciativa
dos integralistas.
De
voltas às fileiras do Exército serviu na Diretoria-Geral do Pessoal no Rio de
Janeiro, sendo promovido ao posto de Tenente-Coronel; em 1963, ao ter negado o
seu pedido de retorno a Porto Alegre, pediu transferência para a reserva como
Coronel. Retornando à Capital, assumiu a Chefia da Assessoria de Relações
Públicas da REFAP. Não chegou, porém, a completar um ano na REFAP, tendo sido
atingido pelo Ato Institucional n.º 1, de 1964, perdendo o seu cargo na
PETROBRÁS e seus vencimentos de Oficial da Reserva do Exército, do qual foi
demitido.
Após
oito meses de exílio no Uruguai, retornou ao Brasil, sendo preso em sua casa em
Porto Alegre. Depois de quarenta e oito dias de cárcere, foi posto em
liberdade; julgado, foi condenado a quatorze meses de prisão. Na ocasião, o Jornal do Brasil estampou em sua
manchete a versão do condenado: “Condenação é honra para o ex-Coronel”. Na
prisão, o Capitão do Povo sofreu grandes maus tratos e fez greve de fome, até
ser transferido para uma unidade da Brigada Militar. Em 13 de dezembro de 1967,
foi finalmente absolvido pelo Superior Tribunal Militar. Saiu da cadeia no dia
em que comemorava bodas de prata do seu casamento; em casa, mais de uma centena
de amigos o aguardavam. No dia seguinte, a imprensa noticiou: “Na casa do
Coronel Pedro Alvarez os comunistas se reuniram. Havia mais de mil pessoas.”
Demitido do Exército e da REFAP, tendo uma família para sustentar, o Coronel
Pedro Alvarez aceitou o convite de um amigo para vender casas para a COHAB.
Mais uma vez as pressões o obrigaram a abandonar o emprego. A seguir, foi
vender seguros para o GBOEx. Novamente pressionado, teve de abandonar o
trabalho. Só com a anistia, em 1979, voltou a ter uma fonte de renda, como
Coronel de Reserva que voltou a ser. Esse homem indômito e íntegro dedicou a
sua vida aos mais humildes e à grandeza da Pátria, sem nunca dobrar-se aos
poderosos, mesmo que às custas dos maiores sacrifícios pessoais. Nós temos a
honra de homenageá-lo, no dia de hoje, concedendo-lhe o Título de Cidadão de
Porto Alegre, título, aliás, que o povo já lhe havia concedido ao elegê-lo como
um dos parlamentares mais votados da nossa história.
Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, esta Sessão Solene não foi marcada para o dia de
hoje por um acaso, ocorre que no dia 10 de maio, amanhã, comemora-se mais um
aniversário da entrada em funcionamento da PETROBRÁS, no caso, os seus quarenta
e oito anos. Assim, ao marcarmos esta homenagem ao Coronel Pedro Alvarez para o
dia de hoje, quisemos também homenagear a todos os que lutaram e lutam pelo
monopólio estatal do petróleo e pela manutenção da PETROBRÁS como uma empresa
estatal de propriedade do povo brasileiro e, em especial, aos seus
trabalhadores, que transformaram esse sonho patriótico em uma das maiores
empresas de petróleo do mundo.
O
tempo não nos permite aprofundar a gravidade do momento em que vivemos, quando
o nosso País, sob a égide do neoliberalismo, está sendo entregue ao grande
capital internacional, e a própria PETROBRÁS está sendo, pouco a pouco,
privatizada - a começar pela nossa REFAP.
Que
esta homenagem sirva não só para esse grande homem - que orgulha a nossa terra
- mas também para ser um grito de protesto da cidade de Porto Alegre, desta
Câmara, do povo do nosso Estado contra o crime que é cometido nos dias de hoje
contra a nossa Pátria. Que este ano de 2002 seja um ano que abra caminho para
darmos novos rumos para o nosso Brasil. Um grande abraço ao nosso novo Cidadão
de Porto Alegre, um abraço comunista! Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Adeli Sell está com a palavra e
falará em nome do Partido dos Trabalhadores.
O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Sr.ªs
Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) A história já foi contada; brevemente, mas está contada pelo
proponente da homenagem, Ver. Raul Carrion.
Muitos
que estão aqui acompanharam uma parte substantiva da sua história, meu amigo
Pedro Alvarez. A sua biografia, que deve sair em breve, legará, para todos nós
e para tantos outros desta Cidade e deste Estado, a sua história de luta, a sua
combatividade e a sua integridade. O senhor, meu amigo, é uma pessoa que tem o
carinho não apenas dos Vereadores que estão aqui, mas de personalidades
políticas de vários partidos, inclusive o respeito dos seus adversários, porque
pessoas como Pedro Alvarez, que trilharam um caminho e mostraram por onde se
pode caminhar em defesa do interesse da Nação, do interesse de um povo. Mostrou
para o Brasil inteiro que é possível ter uma empresa pública, como a PETROBRÁS,
para beneficiar a população deste País. Sei também, meu caro Pedro Alvarez, da
tua batalha e daqueles que estão próximos a ti, nessa trajetória em defesa da
Amazônia, em defesa dos mais pobres, dos excluídos, daqueles que não tinham e
não têm voz, e da tua batalha dentro desta Casa, por mais breve que tenha sido,
na Assembléia Legislativa, nesses dois projetos apresentados, da tua trajetória
no Exército, em todos os lugares. Muitos devem lembrar de você e, talvez, hoje,
não puderam estar aqui, e não estão aqui, da Farrapos, Navegantes, que tiveram
em Porto Alegre a voz da sua combatividade, a voz do Capitão do Povo.
Assim, quero, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, dos meus colegas aqui presentes, do Líder da Bancada, Ver. Marcelo Danéris, e do Ver. Juarez Pinheiro, trazer o nosso abraço carinhoso, a nossa homenagem e a certeza de que a sua luta valeu a pena, continua valendo a pena tudo aquilo que aqui foi expresso na noite de hoje.
Tenha
a certeza de que no futuro continuaremos aqui honrando a sua trajetória. Um
abraço carinhoso e caloroso nosso e do nosso partido, o Partido dos
Trabalhadores, militantes, como o senhor tem sido nos últimos anos, da nossa
legenda. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra
pelo PDT.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Esta é uma Sessão plural, meu caro
Presidente, e a presença de algumas figuras representativas do mandato popular
já revelou isso, e isso define muito bem a trajetória de respeito e de
admiração que acompanham a trajetória da vida de Pedro Alvarez. É tão
importante a sua figura que há pouco presidia esta Sessão e prestava a sua
homenagem o Ver. Reginaldo Pujol. Eu acredito que tinha a ver um pouco, meu
caro Coronel Pedro Alvarez, com a nossa época, com um momento apenas da sua
época, porque a sua história é muito mais longa, com a década de 60. O Ver.
Reginaldo Pujol era líder estudantil, Jussara Cony, e o Ver. Reginaldo Pujol
não era da nossa linha, mas era um homem que hoje ele revelou a sua trajetória,
a sua vertente permanente, porque era o único líder estudantil que pertencia às
correntes mais conservadoras e à direita e que não tinha, Presidente José
Fortunati, o ranço do anticomunismo. Não havia. E hoje, ele, abrindo esta
Sessão, recordou isso. E a presença do seu colega de farda, Pedro Américo Leal,
é extremamente representativa. Neste momento, eu vejo na figura do Cel. Pedro
Américo Leal, um adversário leal que tivemos, a representação dos seus colegas
de farda no curso da sua história. Apesar das punições, das adversidades - e
foram muitas na sua trajetória política -, das perseguições que sofreu, o
senhor sempre mereceu a respeitabilidade. Aliás, dentro daquela trajetória de
um outro extraordinário homem brasileiro, que foi Luís Carlos Prestes, que
tinha essa trajetória de respeitabilidade de seus adversários.
Eu
sei que o meu tempo é curto, mas há algumas coisas que gostaria de registrar,
que são extremamente importantes. Uma delas, é da difícil época de 1930, na
difícil década de 1930, quando o fascismo, nazismo achavam-se numa verdadeira
escalada. E a simpatia pelo fascismo e o nazismo fazia com que houvesse um
silêncio muito grande. E o fato revelador de dois momentos da sua existência e
da sua trajetória - que me permita a tolerância do tempo do Presidente desta
Casa, Ver. José Fortunati, que eu registre -, um deles é quando os
integralistas, nos seus desfiles que realizavam, já na Av. Osvaldo Aranha,
provocavam e ameaçavam a comunidade judaica naquele bairro, que ali já
escolhera aquele local como uma referência de uma comunidade de imigrantes, que
via que a sua tendência natural era permanecer junta, em função de um processo
de necessidade, de integração e de mútua ajuda. E o senhor era aluno do Colégio
Militar. E o senhor, lá dentro do Colégio Militar, ali na velha, vetusta escola
de cadetes, liderou um movimento para ir à Av. Osvaldo Aranha em defesa da
comunidade judaica, contra aqueles que desfilavam com as bandeiras verdes do
integralismo, repudiando e enfrentando aquelas linhas auxiliares do
nazi-fascismo e do hitlerismo. Esse é o personagem Pedro Alvarez. Esse é o
personagem Pedro Alvarez, cujo registro faz o Ver. Raul Carrion, na sua
exposição de motivos, quando a comunidade judaica vivia a mais profunda solidão
no seu isolamento. E o senhor, quando os oficiais alemães vinham aqui
apresentar-se e fazer exposições de canhões alemães, em um evento de
apresentação de um filme, mais uma vez liderou as vaias e o repúdio àqueles
oficiais alemães e aquela trajetória, em um momento difícil, em que todo mundo
já tinha uma grande simpatia e via no hitlerismo e no nazismo uma escalada de
vitórias e o silêncio do mundo era total, em relação aqueles que já sofriam o
processo de perseguição.
Eu
quero encerrar, tinha muito a falar, Coronel Pedro Alvarez, da sua presença, da
sua história. Acompanhei, jovem, na militância do movimento estudantil, lá no
Colégio Júlio de Castilhos, quando o senhor lá corria, no início da década de
60, e eu fui colega do seu filho, prematuramente falecido; o senhor ia lá nos
convocar para as nossas caminhadas, os nossos enfrentamentos e as nossas lutas
do movimento estudantil. Lá ia o senhor, sempre presente e junto em defesa das
causas populares.
Gostaria
de recordar o momento que aqui foi referido pelo Ver. Raul Carrion, quando
naqueles momentos difíceis já do Ato Institucional n.º 5, AI-5, nós carregamos
juntos, sob a sua liderança, o caixão, e caminhamos ali do necrotério municipal
da cidade de Porto Alegre, início da Osvaldo Aranha, do lado da Praça
Argentina, em direção ao cemitério da Santa Casa, carregando os restos mortais
do Sargento Manoel Raimundo Soares, figura heróica, inscrita na história da
nossa Pátria. Era o senhor quem liderava aquele movimento naquele momento.
Por
tudo isso, mais do que nunca, a justa homenagem que esta Casa faz. Esta Casa
resgata um compromisso com o senhor. Esta Casa resgata um compromisso com o
momento da nossa história. E ninguém mais do que o senhor é representativo
dessa história e dessas lutas, omitindo até um dos momentos importantes, quando
nós colocamos, no início também da década de 60, com a sua presença, a torre de
petróleo no Centro da Cidade, na Praça da Alfândega, em defesa do monopólio
estatal do petróleo. Muito obrigado, e a nossa saudação em nome da Bancada
Trabalhista nesta Casa. (Palmas.) Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Convidamos o Ver. Raul Carrion a
proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Coronel
Pedro Arbues Martins Alvarez.
(Procede-se
à entrega do Diploma e da Medalha, alusivos ao Título Honorífico de Cidadão de
Porto Alegre ao Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez.) (Palmas.)
O
Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez está com a palavra.
O SR. PEDRO MARTINS ALVAREZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero, antes e acima de tudo,
agradecer ao Ver. Raul Carrion este título que muito me honra, por ser, a
partir de hoje, um cidadão porto-alegrense, porque aqui já resido há mais de
quarenta anos e aqui iniciei uma luta, como Vereador mais votado da nossa
Capital, em favor das classes mais necessitadas, para poder transformar este
nosso País.
Vim
de Santana do Livramento, minha cidade natal, com treze anos de idade, para
prestar exame de admissão no Colégio Militar de Porto Alegre, juntamente com
meus dois irmãos, Carlos Alberto e Ângelo. Os nossos professores, em sua grande
maioria, eram excelentes. Nas aulas ministradas, procuravam apresentar a
realidade brasileira, incentivando-nos a sermos verdadeiros patriotas em defesa
da honra e da integridade de nosso País, da soberania nacional e,
fundamentalmente, de nosso povo. Ficávamos, assim, orgulhosos de sermos
brasileiros, pois, com eles, aprendemos que o nosso País era um dos maiores do
planeta, um País continente, e que possuíamos as maiores riquezas do mundo em
nosso subsolo, dotado de grandes jazidas minerais e estratégicas de toda
espécie, desde pedras preciosas até o ouro, minérios de todos os tipos, reservas
de materiais estratégicos, como o manganês, o bário, tório, urânio, areias
monazíticas, etc. Possuímos a Amazônia, a maior e mais rica floresta do mundo,
com mais de cinco milhões de quilômetros quadrados. Somos um País com rios
caudalosos, com quedas d'água que poderiam ser transformadas em usinas
hidroelétricas, capazes de produzir energia abundante e barata para o
desenvolvimento e progresso do nosso País e bem-estar do nosso povo. Enfim,
vivemos num dos países mais ricos do mundo, mas vemos também uma grande parte
da nossa população passando fome, na miséria. Isso aprendi nos bancos do
Colégio Militar, que nós, neste País rico, não poderíamos ter um povo que
passasse tanta necessidade. Daí, o caminho que escolhi foi o de lutar pelos
mais necessitados e em defesa da soberania nacional e da integridade
territorial, porque os nossos minérios, o nosso petróleo, a nossa Floresta
Amazônica, o nosso povo jamais será escravo de ninguém, como disse Getúlio
Vargas. O nosso povo é o povo brasileiro, que, mais dia ou menos dia, haverá de
derrotar esse neoliberalismo, essa globalização que enriquece cada vez mais uma
minoria, que fica cada vez mais rica, e uma maioria da população que fica cada
vez mais pobre, sem educação, sem assistência médica, porque o Fundo Monetário
Internacional determina a porcentagem do empréstimo que nos faz a juros
fantásticos; ele é que diz que a porcentagem “x” é para a educação; a outra
porcentagem é para a assistência médica. Enfim, precisamo-nos libertar do jogo
do capital estrangeiro em sua forma imperialista de domínio econômico, político
e social do nosso País e da América do Sul, e haveremos de lutar pelo MERCOSUL,
para sermos os líderes da América, que vai enfrentar o neoliberalismo que hoje
toma conta de grande parte do mundo.
A
campanha do petróleo. Estávamos em pleno término da II Guerra Mundial, mas o
imperialismo tem as suas crises cíclicas, quando ele está em uma situação
econômica ruim, ele dá uma saída. A saída dele é a guerra. Mal foi terminada a
II Guerra Mundial, eles já lançaram a chamada “Guerra Fria.” Na guerra fria,
eles exigiam que os países do mundo inteiro os apoiassem. Surgiram duas teses a
respeito do problema do petróleo. Uma era chamada Tese Gen. Horta Barbosa, que
lutava pelo monopólio estatal do petróleo; e a outra era a chamada Gen. Juarez
Távora, que era adepto da participação do capital estrangeiro, porque afirmavam
eles que nós, brasileiros, não tínhamos capacidade técnica, não tínhamos
recursos financeiros para explorar o petróleo, e nós, com o povo nas ruas,
movimentando as massas brasileiras, movimentos similares às “Diretas já! “ e
“Fora Collor”. Com esse movimento em torno da luta do monopólio estatal do
petróleo foi que nós conseguimos impor no Brasil esse ponto de vista de que as
riquezas naturais devem ser exploradas em favor do povo brasileiro.
Foi
lá no Clube Militar, num debate entre os dois Generais, de um lado o Juarez
Távora, que defendia, por convicção dele, que a guerra era iminente, que era
preciso retirar o petróleo o quanto antes, e nós não poderíamos estar contra o
ocidente. Do outro lado dizíamos nós, os nacionalistas, que o petróleo, que é
fundamental para movimentar todo o arsenal de guerra, tinha que ser do Brasil e
dos brasileiros. Daí surgiu a grande campanha do “Petróleo é nosso”, que teve
seu início da discussão no Clube Militar, ganhou as ruas; e os estudantes se
mobilizaram, foram para as ruas; os trabalhadores, com os seus sindicatos,
foram para as ruas; e o povo, enfim, criou aquela consciência nacionalista de
que o petróleo brasileiro tinha de ser explorado pelos brasileiros. Daí aquela
nossa bandeira de luta “O petróleo é
nosso”, tornou-se a palavra de ordem de todos os patriotas do Brasil.
Hoje,
nós vemos o Brasil ameaçado pelo capital estrangeiro, em querer, por incrível
que pareça, tomar conta da Amazônia; temos de estar alertas. Vou citar apenas,
em poucas palavras, o que eles estão preparando para nós, o cerco da Amazônia,
em relação ao denominado Cerco Militar da Amazônia Brasileira pelos Estados
Unidos da América, aí seguem as seguintes evidências: presença militar na
Bolívia e no Peru, base aeronaval no já dolarizado Equador, situado em Manta,
na fronteira com a Colômbia, nesse conhecidíssimo Plano Colômbia, que os
norte-americanos já afirmaram pretender ampliar para Plano América. Bases
aeronavais em Aruba e Curaçau, junto ao litoral da Venezuela; base no Suriname
e, ainda, base em Salvador, na América Central. Como se isso não bastasse, eles
ainda estão de olho na base de Alcântara no Estado do Maranhão.
Nós
devemos estar atentos que é fundamental, e que fique bem claro, que o mundo
atual é dominado econômica e militarmente pelo império americano em processo de
expansão. Contra ele opõe-se a resistência crescente dos povos do mundo
inteiro, como evidenciado ficou na realização dos dois grandiosos e concorridos
Fóruns Sociais Mundiais de Porto Alegre e a perspectiva de mais uma vez estar
na história da humanidade derrotar o império do mal que nos querem impor goela
abaixo. Fóruns como esses devem se tornar uma prática em nosso País, para
debater questões nacionais relevantes como Amazonas, SIVAM, Calha Norte,
energia, meio ambiente, soberania nacional, etc.
Quero
agora falar a respeito da PETROBRÁS, já que estamos em pleno aniversário no dia
de amanhã. Uma reforma. A PETROBRÁS, depois de ser conhecida no mundo inteiro
como uma das maiores empresas petrolíferas, começou a ser desmontada já no
Governo Collor. Uma reforma dos estatutos foi o pontapé inicial ao definir
novas estruturas para diretorias executivas e conselhos de administração e das holdings subsidiárias do sistema
PETROBRÁS. A tal reforma servia, na prática, a dois cardápios particularmente
palatáveis ao apetite do neoliberalismo governante: 1- a franquia daquelas
funções antes reservadas a detentores de experiência e amplo conhecimento do
setor a cabos eleitorais e apaniguados em geral, desde que, claro, filiados a
greis governistas contra essa ainda mais intragável e até repugnante para quem
está faminto por justiça social e que conduz ao buraco negro dos interesses
nacionais, é aquele caminho que, ao longo de décadas, os patriotas brasileiros
souberam manter inacessível às tentativas de avanço do capital aventureiro e
sem entranhas, o caminho do nosso ouro negro, patrimônio econômico e
sentimentalmente imensurável para quantos vivem a saga da sua afirmação.
O
petróleo, que a PETROBRÁS faz jorrar do subsolo pátrio para transformar em
infinitas riquezas, vem, mais e mais, transformar e vai-se evasando por entre os dedos das mãos dos brasileiros. Um exemplo
vivo e insofismável disso temos aqui bem próximo de nós: a Refinaria Alberto
Pasquallini - da qual eu tive a honra de ser Chefe de Relações Públicas antes
da minha cassação dos direitos políticos e da posição que eu tive que tomar em
ir para o Uruguai, em me asilar fora do País, devido à perseguição política. A
nossa Refinaria Alberto Pasquallini, a muito custo, conquistada pelo Rio Grande
do Sul para plantar no solo gaúcho aquele símbolo da soberania nacional que
outrora foi a PETROBRÁS, já não é mais plenamente brasileira, assim como
dezenas de poços produtores de petróleo, os leiloados, outros arrolados como
ativos, em troca a ex-nossa REFAP - ex-nossa REFAP - hoje, REFAP S.A., está
hoje parcialmente alienada a uma multinacional, uma multinacional que - é óbvio,
mas esta obviedade precisa ser frisada - só se preocupa com o lucro.
Já
me referi ao cerco da Amazônia? Desculpem, vou fazer oitenta e quatro anos,
pode ser que já tenha falado sobre o cerco da Amazônia. (Palmas.) Já, já falei.
Os
militares. Eu dedico isso ao meu querido colega de farda, nosso Ver. Pedro, que
tem o meu nome, é meu tocaio, o Pedro Américo Leal, mas é dirigido, também, aos
nossos companheiros e todos àqueles quanto antes eram - não digo inimigos -
contrários ao que nós atuávamos, ao que nós fazíamos. Os militares, hoje, sejam
eles da ativa ou da reserva, estão empenhados em conjurar os perigos que
envolvem cada dia mais a soberania da Nação. Para isso é que existem as Forças
Armadas e que o povo as sustenta. As intolerâncias, as desavenças, as
incompreensões passadas são superadas, meu querido Pedro Américo Leal, e
desenvolvidas diante da ameaça que ronda a Amazônia. E V. Ex.ª, em muito boa
hora, já lançou um slogan: “A
Amazônia é nossa!” Assim como nós, no passado, lutamos com “O petróleo é nosso!”
Eu me congratulo com V. Ex.ª.
O
cerco à Amazônia nos preocupa. E estamos nos preparando, cada vez mais, para
defendê-la. A selva nos une! A Amazônia nos pertence! Privatizar faz mal ao
Brasil; aumentando a pobreza, enriquecendo uma minoria que explora a grande
massa da população brasileira.
Por
isso, meus senhores e minhas senhoras, eu não tenho palavras para agradecer.
Tornar-me um Cidadão de Porto Alegre! Ser cidadão santanense já era uma honra.
Ser Cidadão porto-alegrense é mais uma honra! Eu sei que isso se deve ao pouco
que eu fiz para lutar em defesa do nosso povo que tanto necessitava de melhores
dias.
Eu
relembro o fato que ocorreu comigo na trágica noite de 31 de março, no dia que
nós denominamos - desculpe querido amigo - golpe militar. No dia 31 de março eu
estava na sede do meu escritório de relações públicas ali na Rua da Praia,
porque a Refinaria estava em obras, e eis que me chega, na noite, o Dr. César
Ávila, cirurgião conhecido em Porto Alegre, que tinha o Hospital Independência.
Ele disse para mim: “Alvarez, vim te buscar”, eu disse: “O quê? O que é,
Doutor?” Na prática, eu tinha ligação com os estudantes, estava rasgando os
nomes dos estudantes, inclusive o do nosso amigo Ver. Isaac Ainhorn e de tantos
outros, desmanchando qualquer indicação. Ele disse: “Não tem nada disso, a tua
esposa e teus filhos já estão na minha casa, e tu vais baixar num hospital com
outro nome.” “Eu, baixado?” “Tu vais para um hospital.” Aí o Carlos Contursi,
que trabalhava comigo, que era muito amigo do Brizola, levou-me para um
hospital. E lá vou eu dormir no hospital. Na manhã seguinte, a minha filha
Tânia - que lá está, aquela bonita moça - levou-me uma roupa, e eis que, não
sei como, a 2.ª Seção soube que eu estava naquele hospital. O Dr. César Ávila
disse: “Não tem problema.” Colocou-me numa ambulância e me levou para o
Hospital Petrópolis, do Dr. Del Arroyo. Lá fui eu para o hospital, de novo numa
ambulância. Era para eu sair de Porto Alegre, mas estava difícil, porque havia
uma relação, eu não sei qual era o meu número, mas tinha Prestes, Brizola,
Jango, Fulano, Beltrano, e eu estava lá. Eu não podia seguir de ônibus, porque
tinha que apresentar identidade, e o cara dizia: “Se consta da lista, está
preso.” Diante das dificuldades, surgiu uma possibilidade. Um ferroviário, que
era da esquerda, disse: “Não tem problema, eu vou para Santana do Livramento na
quinta-feira, e o Coronel vocês levam para a minha casa na terça-feira à noite
para não desconfiarem. Ele pousa lá e, na quinta-feira, ele vai comigo, ele vai
junto. Eu sou o maquinista, ele vai junto comigo, ao lado, na máquina.” Eles
até me deram um macacão e um gorro; eu hoje me arrependo de tê-los dado,
deveria ter guardado. O fato é que, quando chegou na quarta-feira, véspera da
viagem, ele chegou e disse: “Ah, entrou areia, não vai ser possível levar o
Coronel.” Colocaram um outro cara ao lado do maquinista e desconfiaram, e
agora? Aí me levaram para o hospital do Del Arroyo de novo. Lá estou eu no Del
Arroyo, vai, não vai, sai, não sai, aí chega uma figura simpática, o Dr. Saul
Messias, que tinha um serviço de traumatologia ali na Praça Júlio de Castilhos.
O Dr. Messias era muito brincalhão e disse para mim: “Ô Alvarez, tu não tens
algum parente parecido contigo?” Eu disse: “Eu tenho um primo, o Ulisses
Martins, que mora na Getúlio Vargas, tem a cara redonda como eu, o nariz
pequeno, mas, parecido, parecido...” Diz ele para a minha esposa: “Iná, vai
buscar essa carteira.” Foi lá, trouxe a carteira. Aí ele disse para mim:
“Despede-te do pessoal - isso era umas 11h da noite -, e o Coronel vai
amanhecer em Rivera, no Uruguai, salvo de qualquer prisão.” Aí nos tocamos de
carro. Quando chegamos em Pantano Grande - todo mundo diz Pantano, mas eu acho
que o certo é Pântano, assim como tem a Ponte da Alemoa e deveria ser Alemã -,
a patrulha do Exército parou o carro, com uma baita lanterna: “Alto lá!” Mas,
antes disso, o Dr. Saul Messias me botou um gesso frio, como se eu estivesse
com a perna quebrada, me deu um par de muletas, me botou umas gazes pela cara,
e disse: “Tu tens algum médico conhecido em Santana do Livramento?” Eu disse:
“Eu tenho lá no hospital o Dr. Hélio Viegas.” “Mas que tal ele é?” Eu digo:
“Ele é da UDN.” “Ele vai te denunciar?” Eu digo: “Não, ele não vai me
denunciar, porque eu fui instrutor dele quando ele foi convocado para a guerra,
e ele é meu amigo, e é um homem sério e correto. Ele não vai me denunciar.”
Então, ele fez uma transferência minha, do hospital dele para o hospital de
Livramento. E nos tocamos de carro. Quando chegamos em Pantano Grande, a
patrulha do Exército nos parou, um sargento grandão disse: “Vamos sair do
carro.” O Dr. Saul Messias saiu e ele: “Abra o porta-malas.” Aí foi um soldado
lá olhar a mala. “E você aí?” Eu estava com a perna quebrada, botei só a perna
engessada para fora, e a muleta, e fiquei só olhando para o sargento. E o
sargento olhava para mim, como o Carrion está me olhando. Eu olhava para o
sargento, e ele olhava para mim. E aí ele diz assim: “O senhor não é o Coronel
Alvarez?” Eu fiquei quieto. Aí ele disse: “Ô, cabo, acaba com essa revista,
está tudo legalizado, o senhor está transferido para Livramento. Vamos rápido
com isso.” Aí ele disse assim para mim: “Coronel, um abraço e um breve
regresso, um abraço nos companheiros.” E lá me toquei eu. (Palmas.)
Passei
para o Uruguai. Fiquei livre da tortura. Vivi num país onde havia liberdade, e
quando regressei a este País novamente eu não podia trabalhar, e resolvi
comprar uma peruca, que o Jango me pagou, porque eu não tinha dinheiro para
comprar. O Jango disse assim: “Mas tu vais voltar para Porto Alegre com essa
careca?” Eu disse: “Jango, eu não tenho dinheiro.” “Vai ver quem é que faz uma
peruca boa e dá para o Alvarez.” Custou não sei quanto, e lá vim eu de peruca,
com outro nome e entrei aqui.
Aí
tentei contatos com os nossos companheiros da PETROBRÁS, com os ferroviários, e
fazíamos umas reuniões, mas eu senti que não tínhamos condições de reagir a
coisa nenhuma, que o troço estava perdido, que eles tinham tomado conta de
tudo, não havia condições. Então, um dia resolvi tirar a peruca e digo: “Vou
deixar esses caras me prenderem para ver que bicho vai dar.” Pois não é que eu
estou passando na Rua da Praia e o jornalista que escrevia uma coluna, o J. K.,
que trabalha na rádio, disse assim: “Foi visto em plena Rua da Praia o
ex-Coronel Pedro Alvarez, que está sendo procurado pela polícia e pelo
Exército.” Ah, foi o bastante, chegaram e foram-me buscar, mas eles tiveram
azar, eu já não era mais Coronel, estava demitido, e eles me mandaram um Major.
O Major chegou muito constrangido e disse: “Coronel, eu vim aqui porque o
General Justino mandou dizer que o senhor está preso.” Eu digo: “Olha, tu vais
dizer ao General Justino que esse Coronel para mim não vale. Eu tirei o curso
com ele, sou Coronel e não vou contigo a lugar nenhum, porque tu és Major, e se
ele quiser que mande um mais antigo do que eu.” Aí veio um outro Coronel, muito
constrangido também, e eu terminei indo. A minha esposa arrumou a escova de
dentes, as coisinhas todas e lá me fui eu e fiquei preso.
Mas,
aí, Coronel Pedro Américo, me trataram tão mal naquele 18 RI, mas tão mal, que
eu nunca via a luz do sol. A minha mulher não sabia onde eu estava, o III
Exército não dizia onde eu estava, e ela foi ao General Justino e ameaçou
dizendo: “Se vocês não disserem onde está o meu marido, eu vou para a Rua da
Praia dizer que o Exército seqüestrou o meu marido e que vocês são os
responsáveis pela vida dele.” Foi o bastante. Ele mandou chamá-la e disse: “A
senhora tem dez minutos, vá ao 18 RI que ele está lá.”
Eu
fui mal tratado, eu nunca tive sol, fiquei trinta dias preso. Depois fui
condenado a dois anos e quatro meses e, em vez de me levarem como Coronel, num
quartel, e tendo o quartel por homenagem, que o nosso querido amigo Ver. Pedro
Américo Leal sabe muito bem como é, me colocaram no porão da PE, era Capitão
Piero Ludovico Gobatto. Era Capitão; hoje, é General. Eu ouvia à noite aqueles
gritos e torturas e aquilo me irritava e eu ficava numa situação difícil. “Mas
que coisa, o que é isso?” Nunca saí da prisão, até que um dia resolveram limpar
as celas, e colocaram as celas no pátio, e tinha um rapaz moço, de uns dezenove
ou vinte anos, todo triste, de cabeça baixa, com o corpo cheio de queimaduras
de cigarro, aí perguntei para ele: o que estão fazendo contigo? “O senhor, à
noite, não ouve uns gritos?” Eu: "Me revolto, mas não sei de onde é que
vem.” “Pois eu estou acima da sua peça e lá eles me torturam, eles querem que
eu diga aonde mora Fulano e Beltrano. Eu não sei, porque não conheço.” Aí, o
que aconteceu? Eu perguntei a ele o que era. Ele respondeu-me que era
estudante. Como é o teu nome? Marcos Pancier. Eu tenho boa cabeça, apesar dos
oitenta e quatro anos, lembro bem direitinho Marcos, de Santa Catarina, estava
em Porto Alegre e foi preso. Aí depois nos levaram para lá, eu estava atrás da
grade do porão e passou o Capitão Piero Ludovico Gobatto. Perguntei alguma
coisa a ele e ele me disse que não falava com comunista. “Então vai para pe,
pe, pe”, e disse para ele. “Pá.” Foi o bastante. E aí eu, por minha própria
vontade, pensei: como é que eu vou reagir a tudo isso? Fiz uma greve de fome.
Fiquei três ou quatro dias sem comer. Agora vou contar um fato interessante.
Havia um único tenente que me dizia: “Não faça isso, Coronel. É isso que eles
querem, não faça isso, Coronel.” E eu louco para comer, traziam aqueles bifes
com ovos, com batatinhas, etc. e eu derrubava com os pés para não comer. Fiz a
greve da fome. Deu no jornal do Rio de Janeiro que o Coronel fez a greve da
fome. Qual não foi a minha surpresa quando um ex-colega meu, que havia sido
Deputado, como eu, do outro lado, mas um homem honrado como é o nosso Pedro
Américo Leal, Coronel Perachi Barcellos, mandou o Coronel Almeida, que era da
Secretaria de Segurança, disse: “Vai lá, pega o Cel. Alvarez e convida para ele
ir para um quartel da Brigada.” Aí, eu saí dali, fui para um quartel da
Brigada, fui tratado às mil maravilhas. Dizia-me o Coronel: “Coronel, o senhor
aqui é nosso hóspede. O senhor tem o quartel como homenagem, ande por onde
quiser. Traga uma televisão.” Eu não tenho televisão. “Traga uma televisão, a
sua família pode vir nos visitar a hora que o senhor quiser.” Quando a luta
armada se iniciou, para minha surpresa, ao ler o jornal, vi uma foto do Capitão
Carlos Lamarca, que era o tenente que me estimulava a comer.
Lá,
então, fiquei eu noventa e oito dias, porque tinha sido condenado a dois anos e
oito meses. Mas, o meu advogado, um brilhante advogado, meu querido amigo, Dr.
Eloar Guazelli, foi quem me tirou, quem me salvou. E o nosso amigo leu o que
disse um juiz a meu respeito, quando me absolveram por sete a cinco: “É lógico
que, dos militares, cinco votos foram contra. Só um militar votou a meu favor,
que foi o Gen. Peri Bevilaqua. O Grumós, chamavam ele de “Melo Maluco”, era um
Coronel da aviação. Grumós, enfim, eram todos oficiais de direita, o único
voto, e eu fui absolvido. Aí, fui absolvido, fui para casa. Depois, quis
trabalhar. Ah, trabalhar, mas de que jeito? Onde eu ia, me tiravam! Aí, tinha a
COHAB, a Cooperativa Habitacional, aqui em Porto Alegre, que era o meu amigo
Wilson Eichenberg. “Alvarez, sei que tu tens quatro filhos, tu estás
precisando. Tu não recebes nada do Exército e nada de parte alguma, tu precisas
trabalhar! E eu tenho um lugar para ti: tu vai ser meu vendedor.”
Eu
fui o maior vendedor de apartamentos, aqueles apartamentos perto do Olímpico.
Aqueles, todo mundo dizia: “Vou comprar do Alvarez, que está precisando.”
Então, eu fui o maior vendedor! Aí, ele me botou de chefe de vendas. Aí, o Gen.
Justino me chamou no quartel e disse o seguinte: “Tu tira esse camarada daí, ou
então, tu vai para fora, tu vai ser demitido da COHAB.”A COHAB era a
Cooperativa Habitacional do Rio Grande do Sul - COHAB-RS.
Aí,
o Wilson não queria sair e eu digo: “Faz o seguinte: eu saio, tu fica.”
Aí,
eu tive um professor, com o qual fiz álgebra, tirei média 9,80, era o Cel.
Telino Chagas Teles, presidente do GBOEx: “Não, Alvarez, tu vai vender os
nossos carnês aqui.”
Então,
naquela época, eles abriram. Eu fui o maior vendedor. Eu dei uma sugestão ao
Maurício Sirotsky Sobrinho: “Sirotsky, faz o seguinte: dá de presente de Natal
um título do GBOEx para todos os teus funcionários. Depois, quem quiser
continuar, paga a sua mensalidade, quem não quiser bota fora.” Ali eu ganhei
mais do que dois ou três generais juntos. E ainda ele me deu uma carta de
apresentação para a TV Nacional. Lá
fui eu para o Rio, consegui a mesma coisa: faturei de novo. Aí veio o Costa e
Silva, que era Ministro, disse que me tirassem daquilo ali, porque senão iam
tomar providências contra o GBOEx. Então, eles não me deixaram trabalhar. Essa
é a realidade.
Mas
o que quero dizer, para finalizar, porque sei que estou abusando da boa vontade
da nossa Mesa, meus querido companheiros, todos os Vereadores a quem eu admiro,
não me interessa o partido: Vamo-nos unir, vamos lutar em defesa deste País tão
rico e que tem um povo tão pobre, porque o imperialismo norte-americano nos
explora. Tenhamos a coragem de transformar o Brasil em um verdadeiro Brasil dos
brasileiros. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Nereu D’Avila): Sr.ªs e Srs., comunicamos que
o Presidente José Fortunati precisou se ausentar porque outra solenidade está
se realizando nas dependências da Casa e nós nos sentimos honrados em poder
finalizar este ato, onde foi concedido um Título a um cidadão com todos os
predicados já conhecidos e, emocionalmente, explicitados da tribuna, o que é
uma parte da nossa história. Ao Cel. Pedro Alvarez os nossos cumprimentos e a
nossa satisfação.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.
(Executa-se
o Hino Rio-Grandense.)
Estão
encerrados os trabalhos da presente Sessão.
(Encerra-se
a Sessão às 20h36min.)
* * * * *