ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 09-5-2002.

 


Aos nove dias do mês de maio do ano dois mil e dois, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e treze minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo n° 003/02 (Processo nº 0016/02), de autoria do Vereador Raul Carrion. Compuseram a MESA: o Vereador Reginaldo Pujol, 2° Vice Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Miguel Rossetto, Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul; a Deputada Estadual Jussara Cony, representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; o Deputado Federal Henrique Fontana; o Senhor Carlos Alberto Neves, Secretário Municipal Substituto da Produção, Indústria e Comércio e representante da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Senhor Renato Oliveira, Secretário Estadual da Ciência e Tecnologia; o Senhor Geraldo Lucio Goes Cruz, Coordenador da Comissão Gaúcha em Defesa do Monopólio Estatal do Petróleo e da PETROBRAS; o Senhor César Antônio Przygodzinski, representante do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio Grande do Sul; o Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez, Homenageado, e esposa; o Vereador Raul Carrion, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Vereador Reginaldo Pujol, presidindo os trabalhos, convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional, registrou a presença do Senhor Raul Pont, ex-Prefeito Municipal de Porto Alegre e solicitou ao Vereador José Fortunati que assumisse a direção dos trabalhos. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Raul Carrion, em nome das Bancadas do PC do B, PPB, PTB, PFL, PMDB, PL, PHS, PPS e PSL, teceu considerações acerca da trajetória pessoal e política do Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez, destacando a aprovação unânime do Projeto de Lei do Legislativo que concedeu essa honraria a Sua Senhoria e abordando aspectos alusivos à atuação do Homenageado na história política brasileira. O Vereador Adeli Sell, em nome da Bancada do PT, cumprimentou o Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez pelo recebimento do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, afirmando a justeza da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre a Sua Senhoria e comentando as características de combatividade e integridade que sempre se fizeram presentes na atuação política desempenhada pelo Homenageado. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, homenageou o Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez, discorrendo sobre a atuação política de Sua Senhoria, notadamente no período da História Contemporânea em que o Brasil foi governado por militares e relatando episódios da vida do Homenageado, no que tange à luta desempenhada em defesa do monopólio estatal do petróleo. Após, o Senhor Presidente convidou o Vereador Raul Carrion a proceder à entrega do Diploma e da Medalha alusivos ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e trinta e seis minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima sexta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores José Fortunati, Reginaldo Pujol e Nereu D'Avila, este nos termos do artigo 27, parágrafo único, do Regimento, e secretariados pelo Vereador Raul Carrion, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Raul Carrion, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1° Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): Damos início a esta Sessão Solene de outorga do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Cel. Pedro Arbues Martins Alvarez.

Compõem a Mesa o Ex.mo Dr. Miguel Rosseto, Vice-Governador do Estado, que nos honra com a sua presença; a Ex.ma Sr.ª Deputada Jussara Cony, ex-integrante desta Casa, que nos dá enorme alegria em vê-la mais uma vez conosco e que aqui representa a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; o ilustre homenageado, Cel. Pedro Arbues Martins Alvarez e sua excelentíssima esposa; o Ex.mo Sr. Deputado Federal Henrique Fontana, ex-integrante deste sodalício; o Sr. Carlos Alberto Neves, Secretário Substituto da Secretaria Municipal da Indústria e Comércio, representando a Prefeitura Municipal; o nosso colega proponente desta homenagem, Ver. Raul Carrion; o Ex.mo Sr. Renato Oliveira, Secretário de Estado da Ciência e da Tecnologia; o Dr. Geraldo Lúcio Goes Cruz, Coordenador da Comissão Gaúcha em Defesa do Monopólio Estatal do Petróleo e da PETROBRÁS; o Dr. César Antônio Przygodzinski, representante do SINDIPETROLEIROS do Rio Grande do Sul.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Antes de transferir a palavra ao ilustre Ver. Raul Carrion, proponente desta Sessão Solene, que falará também pelas Bancadas do PC do B, PTB, PPB, PFL, PMDB, PL, PHS, PPS e PSL, permito-me, correndo o risco, inclusive, de algum arranhão no cerimonial da Casa, dizer da minha satisfação e até da minha honra de presidir esta solenidade.

Porto Alegre, que aqui se encontra representada por diferentes segmentos sociais, não desconhece a minha posição política - liberal convicto que sou. Isso não impede que eu tenha um profundo respeito ao nosso homenageado, respeito esse que tive o ensejo de manifestar ao Ver. Raul Carrion quando da proposição vitoriosa por unanimidade na Casa, eis que muito jovem aprendi a reconhecer o valor daquelas pessoas que, de forma convicta, sustentam as suas posições com galhardia, como o Coronel Pedro Alvarez ao longo do tempo tem sustentado as suas posições.

Por isso, quero externar, no início dos trabalhos, esse privilégio especial que tenho de presidir esta Sessão. Acho que o Ver. Raul Carrion foi extremamente feliz ao escolher o nome do nosso homenageado, eis que ele é um paradigma que a sociedade porto-alegrense, a sociedade gaúcha indiscutivelmente proclama e reconhece, independente das nossas posições políticas.

Eu, muito jovem, repito, acho que na primeira eleição de que participei, vi ser escolhido Vereador desta cidade de Porto Alegre, integrante desta Casa Legislativa, com a maior votação até então registrada na história política do Município, o Coronel Pedro Alvarez. Pela legenda, penso eu, da Aliança Republicana Socialista, sigla na qual se colocavam aqueles que, pensando na linha filosófica e doutrinária que ele pensa, precisavam, naquele arremedo de democracia, esconder-se para poder ocupar postos legislativos. Sei da sua luta em defesa dos seus pontos de vista, especialmente em defesa da campanha “O petróleo é nosso”.

Aqui conosco está o Ver. Isaac Ainhorn que bem acentuava essa circunstância, quando da votação do Projeto de Lei do Ver. Raul Carrion. Isso tudo me dá essa prerrogativa, esse privilégio de poder presidir esta Sessão Solene no dia de hoje.

Dito isso - digo de coração, eis que tenho profundo respeito às pessoas coerentes e com posição política, verdadeiros exemplos -, transfiro a palavra ao orador especial da noite, proponente da iniciativa, o Ver. Raul Carrion. (Pausa.)

Quero anunciar a presença na Casa do Presidente deste Legislativo, Ver. José Fortunati, a quem solicito que venha ocupar a direção dos trabalhos em função, inclusive, da relevância do acontecimento que hoje estamos tendo em nossa Casa. Também anuncio a presença entre nós do ex-Prefeito desta Cidade, Dr. Raul Pont, a quem eu ofereço as homenagens da Casa.

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Raul Carrion está com a palavra.

 

O SR. RAUL CARRION: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Registro também a presença da Sociedade Amigos de Livramento, terra natal do nosso homenageado.

Inicio o meu pronunciamento nesta Sessão Solene, na qual entregaremos o Título de Cidadão de Porto Alegre ao Coronel Pedro Alvarez, destacando o fato de que esta homenagem foi aprovada pela totalidade dos Vereadores desta Casa, e o Projeto, que eu tive a honra de protocolar, assinado pela totalidade dos Vereadores desta Casa. Unanimidade rara entre homens e mulheres de diferentes partidos políticos, o que já por si revela o perfil desse homem que, a partir de hoje, honrará Porto Alegre como mais um dos seus bravos e combativos cidadãos.

É com muita honra que aqui estou, em nome do meu Partido Comunista do Brasil, o PC do B, homenageando esse soldado, que conheci em 1966, quando eu era estudante da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, à frente do cortejo que percorreu as ruas da Cidade carregando o corpo do Sargento Manoel Raimundo Soares, assassinado pelo regime militar. Nesta ocasião, encontrei por primeira vez o indômito Coronel Alvarez. Nós que iniciávamos uma caminhada de lutas, víamos esse homem legendário que todos apontavam dizendo: “Aí está o Coronel Alvarez”. Ali conhecemos esse homem.

Esse soldado-cidadão, que hoje homenageamos, nunca se conformou com o fato de um país tão vasto e tão rico como o nosso ser tão submisso aos interesses estrangeiros e possuir uma população tão pobre. Ao longo de toda a sua vida, sem temer as dificuldades, ele sempre lutou por uma pátria livre, soberana e mais justa. O Soldado Pedro - como tantos outros pedros, joãos e josés que fazem essa nossa grande Nação - compreendeu, desde cedo, que o seu dever como militar não era apenas defender o Brasil de uma eventual invasão externa. Por sua luta indômita foi inúmeras vezes "acusado" - e se orgulhava disso - de ser comunista; pois os comunistas, da mesma forma que ele, sempre estavam junto ao povo, organizando a luta contra os seus inimigos - nacionais ou estrangeiros, armados ou não.

O Coronel de Cavalaria Pedro de Arbues Martins Alvarez nasceu em Santana do Livramento, no dia 29 de outubro de 1918, e ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre em 1932. Em 1938 ingressou no curso preparatório para oficiais da Escola Militar do Realengo no Rio de Janeiro. Concluído o curso foi servir em sua cidade natal. A maioria dos recrutas eram analfabetos, subalimentados e desdentados, refletindo as tremendas desigualdades sociais do País. Ali o nosso Soldado do Povo adquiriu a convicção de que era necessária uma profunda transformação política e social para mudar o Brasil. O jovem oficial passou a estudar com entusiasmo os problemas e a História do Brasil. Acompanhou o desenvolvimento da II Guerra Mundial, em especial a luta decisiva entre o Exército Vermelho e o Exército Nazista, não escondendo a sua simpatia pela epopéia soviética. Em 1945 foi promovido a 1.º Tenente e cursou a Escola de Motomecanização. Concluído o curso, tornou-se Capitão, e, depois de algum tempo, foi enviado ao 2.º Regimento de Cavalaria Mecanizada da Serraria, em Porto Alegre. Engajou-se no Movimento Militar Nacionalista, que aglutinava os militares que defendiam a soberania nacional e os interesses do povo. A principal bandeira desse Movimento era a luta pelo monopólio estatal do petróleo. No grande ato da campanha “O petróleo é nosso”, realizado em Porto Alegre, compareceu o Capitão Alvarez, com mais onze oficiais. Desde então, tornou-se um dos principais líderes do nosso Estado, da campanha “O petróleo é nosso”, e persona non grata aos entreguistas nas Forças Armadas.

A campanha “O petróleo é nosso” levou Vargas a remeter um projeto de lei ao Congresso Nacional criando a PETROBRÁS, mas que ainda permitia a exploração de petróleo brasileiro por empresas estrangeiras sediadas no País. Sob pressão popular, o Congresso rejeitou o projeto original e instituiu o monopólio estatal do petróleo.

Servindo, no início da década de 50, em Santa Maria, implantou relações as mais estreitas e democráticas possíveis entre os militares e a população, granjeando grande simpatia entre a tropa e a população. No desfile do 7 de Setembro daquele ano, no momento em que prestava continência ao Palanque Oficial a bordo de um jipe, o povo começou a gritar: “Capitão do Povo! Capitão do Povo”, alcunha que nunca mais o abandonou.

Em 51, o Capitão do Povo foi eleito presidente do Circuito Militar daquela Cidade e presidente de honra da União Popular e Democrática em Defesa da Paz e Contra a Carestia. Nas eleições municipais daquele mesmo ano foi o Vereador mais votado da Cidade, com o apoio dos comunistas.

Em 1954 foi promovido a Major. Nesse mesmo ano, candidatou-se a Deputado Estadual, obtendo votação individual superior a quarenta e quatro deputados eleitos, ficando - por razões de legenda - na primeira suplência.

Em 55 assumiu o mandato por um único mês, apresentando dois importantíssimos projetos. No primeiro deles, propôs uma reforma agrária baseada no conceito inovador de “terras socialmente não-aproveitadas”, origem do conceito de “função social da propriedade”, que seria adotado muitos anos depois pela Constituição de 88.

O segundo projeto criava uma contribuição para fins assistenciais baseada na tributação das grandes fortunas, algo que até hoje não foi conquistado, devido à resistência das elites enriquecidas.

Mas sua atuação não se restringiu à área legislativa. Líder popular, levava ao Plenário da Assembléia as lutas e reivindicações dos mineiros, dos ferroviários, dos oprimidos em geral.

No ano de 55, apoiado por comunistas e socialistas, fez oito mil setecentos e sessenta e oito votos, elegendo-se o Vereador com uma das maiores votações da história de Porto Alegre, só superada, proporcionalmente, pelo atual Presidente da Casa, Ver. José Fortunati.

Em 56, foi eleito Presidente da Liga de Emancipação Nacional e da Associação Brasileira de Defesa dos Direitos do Homem.

Em 57, foi escolhido 2.º Vice-Presidente do Movimento Nacionalista do Rio Grande do Sul.

Nas eleições de 58, foi eleito Deputado Estadual, sendo o oitavo mais votado naquele pleito. Depois de oito meses, teve o seu mandato cassado por iniciativa dos integralistas.

De voltas às fileiras do Exército serviu na Diretoria-Geral do Pessoal no Rio de Janeiro, sendo promovido ao posto de Tenente-Coronel; em 1963, ao ter negado o seu pedido de retorno a Porto Alegre, pediu transferência para a reserva como Coronel. Retornando à Capital, assumiu a Chefia da Assessoria de Relações Públicas da REFAP. Não chegou, porém, a completar um ano na REFAP, tendo sido atingido pelo Ato Institucional n.º 1, de 1964, perdendo o seu cargo na PETROBRÁS e seus vencimentos de Oficial da Reserva do Exército, do qual foi demitido.

Após oito meses de exílio no Uruguai, retornou ao Brasil, sendo preso em sua casa em Porto Alegre. Depois de quarenta e oito dias de cárcere, foi posto em liberdade; julgado, foi condenado a quatorze meses de prisão. Na ocasião, o Jornal do Brasil estampou em sua manchete a versão do condenado: “Condenação é honra para o ex-Coronel”. Na prisão, o Capitão do Povo sofreu grandes maus tratos e fez greve de fome, até ser transferido para uma unidade da Brigada Militar. Em 13 de dezembro de 1967, foi finalmente absolvido pelo Superior Tribunal Militar. Saiu da cadeia no dia em que comemorava bodas de prata do seu casamento; em casa, mais de uma centena de amigos o aguardavam. No dia seguinte, a imprensa noticiou: “Na casa do Coronel Pedro Alvarez os comunistas se reuniram. Havia mais de mil pessoas.” Demitido do Exército e da REFAP, tendo uma família para sustentar, o Coronel Pedro Alvarez aceitou o convite de um amigo para vender casas para a COHAB. Mais uma vez as pressões o obrigaram a abandonar o emprego. A seguir, foi vender seguros para o GBOEx. Novamente pressionado, teve de abandonar o trabalho. Só com a anistia, em 1979, voltou a ter uma fonte de renda, como Coronel de Reserva que voltou a ser. Esse homem indômito e íntegro dedicou a sua vida aos mais humildes e à grandeza da Pátria, sem nunca dobrar-se aos poderosos, mesmo que às custas dos maiores sacrifícios pessoais. Nós temos a honra de homenageá-lo, no dia de hoje, concedendo-lhe o Título de Cidadão de Porto Alegre, título, aliás, que o povo já lhe havia concedido ao elegê-lo como um dos parlamentares mais votados da nossa história.

Sr. Presidente e Srs. Vereadores, esta Sessão Solene não foi marcada para o dia de hoje por um acaso, ocorre que no dia 10 de maio, amanhã, comemora-se mais um aniversário da entrada em funcionamento da PETROBRÁS, no caso, os seus quarenta e oito anos. Assim, ao marcarmos esta homenagem ao Coronel Pedro Alvarez para o dia de hoje, quisemos também homenagear a todos os que lutaram e lutam pelo monopólio estatal do petróleo e pela manutenção da PETROBRÁS como uma empresa estatal de propriedade do povo brasileiro e, em especial, aos seus trabalhadores, que transformaram esse sonho patriótico em uma das maiores empresas de petróleo do mundo.

O tempo não nos permite aprofundar a gravidade do momento em que vivemos, quando o nosso País, sob a égide do neoliberalismo, está sendo entregue ao grande capital internacional, e a própria PETROBRÁS está sendo, pouco a pouco, privatizada - a começar pela nossa REFAP.

Que esta homenagem sirva não só para esse grande homem - que orgulha a nossa terra - mas também para ser um grito de protesto da cidade de Porto Alegre, desta Câmara, do povo do nosso Estado contra o crime que é cometido nos dias de hoje contra a nossa Pátria. Que este ano de 2002 seja um ano que abra caminho para darmos novos rumos para o nosso Brasil. Um grande abraço ao nosso novo Cidadão de Porto Alegre, um abraço comunista! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Adeli Sell está com a palavra e falará em nome do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Sr.ªs Vereadoras e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A história já foi contada; brevemente, mas está contada pelo proponente da homenagem, Ver. Raul Carrion.

Muitos que estão aqui acompanharam uma parte substantiva da sua história, meu amigo Pedro Alvarez. A sua biografia, que deve sair em breve, legará, para todos nós e para tantos outros desta Cidade e deste Estado, a sua história de luta, a sua combatividade e a sua integridade. O senhor, meu amigo, é uma pessoa que tem o carinho não apenas dos Vereadores que estão aqui, mas de personalidades políticas de vários partidos, inclusive o respeito dos seus adversários, porque pessoas como Pedro Alvarez, que trilharam um caminho e mostraram por onde se pode caminhar em defesa do interesse da Nação, do interesse de um povo. Mostrou para o Brasil inteiro que é possível ter uma empresa pública, como a PETROBRÁS, para beneficiar a população deste País. Sei também, meu caro Pedro Alvarez, da tua batalha e daqueles que estão próximos a ti, nessa trajetória em defesa da Amazônia, em defesa dos mais pobres, dos excluídos, daqueles que não tinham e não têm voz, e da tua batalha dentro desta Casa, por mais breve que tenha sido, na Assembléia Legislativa, nesses dois projetos apresentados, da tua trajetória no Exército, em todos os lugares. Muitos devem lembrar de você e, talvez, hoje, não puderam estar aqui, e não estão aqui, da Farrapos, Navegantes, que tiveram em Porto Alegre a voz da sua combatividade, a voz do Capitão do Povo.

Assim, quero, em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, dos meus colegas aqui presentes, do Líder da Bancada, Ver. Marcelo Danéris, e do Ver. Juarez Pinheiro, trazer o nosso abraço carinhoso, a nossa homenagem e a certeza de que a sua luta valeu a pena, continua valendo a pena tudo aquilo que aqui foi expresso na noite de hoje.

Tenha a certeza de que no futuro continuaremos aqui honrando a sua trajetória. Um abraço carinhoso e caloroso nosso e do nosso partido, o Partido dos Trabalhadores, militantes, como o senhor tem sido nos últimos anos, da nossa legenda. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra pelo PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Esta é uma Sessão plural, meu caro Presidente, e a presença de algumas figuras representativas do mandato popular já revelou isso, e isso define muito bem a trajetória de respeito e de admiração que acompanham a trajetória da vida de Pedro Alvarez. É tão importante a sua figura que há pouco presidia esta Sessão e prestava a sua homenagem o Ver. Reginaldo Pujol. Eu acredito que tinha a ver um pouco, meu caro Coronel Pedro Alvarez, com a nossa época, com um momento apenas da sua época, porque a sua história é muito mais longa, com a década de 60. O Ver. Reginaldo Pujol era líder estudantil, Jussara Cony, e o Ver. Reginaldo Pujol não era da nossa linha, mas era um homem que hoje ele revelou a sua trajetória, a sua vertente permanente, porque era o único líder estudantil que pertencia às correntes mais conservadoras e à direita e que não tinha, Presidente José Fortunati, o ranço do anticomunismo. Não havia. E hoje, ele, abrindo esta Sessão, recordou isso. E a presença do seu colega de farda, Pedro Américo Leal, é extremamente representativa. Neste momento, eu vejo na figura do Cel. Pedro Américo Leal, um adversário leal que tivemos, a representação dos seus colegas de farda no curso da sua história. Apesar das punições, das adversidades - e foram muitas na sua trajetória política -, das perseguições que sofreu, o senhor sempre mereceu a respeitabilidade. Aliás, dentro daquela trajetória de um outro extraordinário homem brasileiro, que foi Luís Carlos Prestes, que tinha essa trajetória de respeitabilidade de seus adversários.

Eu sei que o meu tempo é curto, mas há algumas coisas que gostaria de registrar, que são extremamente importantes. Uma delas, é da difícil época de 1930, na difícil década de 1930, quando o fascismo, nazismo achavam-se numa verdadeira escalada. E a simpatia pelo fascismo e o nazismo fazia com que houvesse um silêncio muito grande. E o fato revelador de dois momentos da sua existência e da sua trajetória - que me permita a tolerância do tempo do Presidente desta Casa, Ver. José Fortunati, que eu registre -, um deles é quando os integralistas, nos seus desfiles que realizavam, já na Av. Osvaldo Aranha, provocavam e ameaçavam a comunidade judaica naquele bairro, que ali já escolhera aquele local como uma referência de uma comunidade de imigrantes, que via que a sua tendência natural era permanecer junta, em função de um processo de necessidade, de integração e de mútua ajuda. E o senhor era aluno do Colégio Militar. E o senhor, lá dentro do Colégio Militar, ali na velha, vetusta escola de cadetes, liderou um movimento para ir à Av. Osvaldo Aranha em defesa da comunidade judaica, contra aqueles que desfilavam com as bandeiras verdes do integralismo, repudiando e enfrentando aquelas linhas auxiliares do nazi-fascismo e do hitlerismo. Esse é o personagem Pedro Alvarez. Esse é o personagem Pedro Alvarez, cujo registro faz o Ver. Raul Carrion, na sua exposição de motivos, quando a comunidade judaica vivia a mais profunda solidão no seu isolamento. E o senhor, quando os oficiais alemães vinham aqui apresentar-se e fazer exposições de canhões alemães, em um evento de apresentação de um filme, mais uma vez liderou as vaias e o repúdio àqueles oficiais alemães e aquela trajetória, em um momento difícil, em que todo mundo já tinha uma grande simpatia e via no hitlerismo e no nazismo uma escalada de vitórias e o silêncio do mundo era total, em relação aqueles que já sofriam o processo de perseguição.

Eu quero encerrar, tinha muito a falar, Coronel Pedro Alvarez, da sua presença, da sua história. Acompanhei, jovem, na militância do movimento estudantil, lá no Colégio Júlio de Castilhos, quando o senhor lá corria, no início da década de 60, e eu fui colega do seu filho, prematuramente falecido; o senhor ia lá nos convocar para as nossas caminhadas, os nossos enfrentamentos e as nossas lutas do movimento estudantil. Lá ia o senhor, sempre presente e junto em defesa das causas populares.

Gostaria de recordar o momento que aqui foi referido pelo Ver. Raul Carrion, quando naqueles momentos difíceis já do Ato Institucional n.º 5, AI-5, nós carregamos juntos, sob a sua liderança, o caixão, e caminhamos ali do necrotério municipal da cidade de Porto Alegre, início da Osvaldo Aranha, do lado da Praça Argentina, em direção ao cemitério da Santa Casa, carregando os restos mortais do Sargento Manoel Raimundo Soares, figura heróica, inscrita na história da nossa Pátria. Era o senhor quem liderava aquele movimento naquele momento.

Por tudo isso, mais do que nunca, a justa homenagem que esta Casa faz. Esta Casa resgata um compromisso com o senhor. Esta Casa resgata um compromisso com o momento da nossa história. E ninguém mais do que o senhor é representativo dessa história e dessas lutas, omitindo até um dos momentos importantes, quando nós colocamos, no início também da década de 60, com a sua presença, a torre de petróleo no Centro da Cidade, na Praça da Alfândega, em defesa do monopólio estatal do petróleo. Muito obrigado, e a nossa saudação em nome da Bancada Trabalhista nesta Casa. (Palmas.) Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (José Fortunati): Convidamos o Ver. Raul Carrion a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez.

 

(Procede-se à entrega do Diploma e da Medalha, alusivos ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez.) (Palmas.)

 

O Coronel Pedro Arbues Martins Alvarez está com a palavra.

 

O SR. PEDRO MARTINS ALVAREZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero, antes e acima de tudo, agradecer ao Ver. Raul Carrion este título que muito me honra, por ser, a partir de hoje, um cidadão porto-alegrense, porque aqui já resido há mais de quarenta anos e aqui iniciei uma luta, como Vereador mais votado da nossa Capital, em favor das classes mais necessitadas, para poder transformar este nosso País.

Vim de Santana do Livramento, minha cidade natal, com treze anos de idade, para prestar exame de admissão no Colégio Militar de Porto Alegre, juntamente com meus dois irmãos, Carlos Alberto e Ângelo. Os nossos professores, em sua grande maioria, eram excelentes. Nas aulas ministradas, procuravam apresentar a realidade brasileira, incentivando-nos a sermos verdadeiros patriotas em defesa da honra e da integridade de nosso País, da soberania nacional e, fundamentalmente, de nosso povo. Ficávamos, assim, orgulhosos de sermos brasileiros, pois, com eles, aprendemos que o nosso País era um dos maiores do planeta, um País continente, e que possuíamos as maiores riquezas do mundo em nosso subsolo, dotado de grandes jazidas minerais e estratégicas de toda espécie, desde pedras preciosas até o ouro, minérios de todos os tipos, reservas de materiais estratégicos, como o manganês, o bário, tório, urânio, areias monazíticas, etc. Possuímos a Amazônia, a maior e mais rica floresta do mundo, com mais de cinco milhões de quilômetros quadrados. Somos um País com rios caudalosos, com quedas d'água que poderiam ser transformadas em usinas hidroelétricas, capazes de produzir energia abundante e barata para o desenvolvimento e progresso do nosso País e bem-estar do nosso povo. Enfim, vivemos num dos países mais ricos do mundo, mas vemos também uma grande parte da nossa população passando fome, na miséria. Isso aprendi nos bancos do Colégio Militar, que nós, neste País rico, não poderíamos ter um povo que passasse tanta necessidade. Daí, o caminho que escolhi foi o de lutar pelos mais necessitados e em defesa da soberania nacional e da integridade territorial, porque os nossos minérios, o nosso petróleo, a nossa Floresta Amazônica, o nosso povo jamais será escravo de ninguém, como disse Getúlio Vargas. O nosso povo é o povo brasileiro, que, mais dia ou menos dia, haverá de derrotar esse neoliberalismo, essa globalização que enriquece cada vez mais uma minoria, que fica cada vez mais rica, e uma maioria da população que fica cada vez mais pobre, sem educação, sem assistência médica, porque o Fundo Monetário Internacional determina a porcentagem do empréstimo que nos faz a juros fantásticos; ele é que diz que a porcentagem “x” é para a educação; a outra porcentagem é para a assistência médica. Enfim, precisamo-nos libertar do jogo do capital estrangeiro em sua forma imperialista de domínio econômico, político e social do nosso País e da América do Sul, e haveremos de lutar pelo MERCOSUL, para sermos os líderes da América, que vai enfrentar o neoliberalismo que hoje toma conta de grande parte do mundo.

A campanha do petróleo. Estávamos em pleno término da II Guerra Mundial, mas o imperialismo tem as suas crises cíclicas, quando ele está em uma situação econômica ruim, ele dá uma saída. A saída dele é a guerra. Mal foi terminada a II Guerra Mundial, eles já lançaram a chamada “Guerra Fria.” Na guerra fria, eles exigiam que os países do mundo inteiro os apoiassem. Surgiram duas teses a respeito do problema do petróleo. Uma era chamada Tese Gen. Horta Barbosa, que lutava pelo monopólio estatal do petróleo; e a outra era a chamada Gen. Juarez Távora, que era adepto da participação do capital estrangeiro, porque afirmavam eles que nós, brasileiros, não tínhamos capacidade técnica, não tínhamos recursos financeiros para explorar o petróleo, e nós, com o povo nas ruas, movimentando as massas brasileiras, movimentos similares às “Diretas já! “ e “Fora Collor”. Com esse movimento em torno da luta do monopólio estatal do petróleo foi que nós conseguimos impor no Brasil esse ponto de vista de que as riquezas naturais devem ser exploradas em favor do povo brasileiro.

Foi lá no Clube Militar, num debate entre os dois Generais, de um lado o Juarez Távora, que defendia, por convicção dele, que a guerra era iminente, que era preciso retirar o petróleo o quanto antes, e nós não poderíamos estar contra o ocidente. Do outro lado dizíamos nós, os nacionalistas, que o petróleo, que é fundamental para movimentar todo o arsenal de guerra, tinha que ser do Brasil e dos brasileiros. Daí surgiu a grande campanha do “Petróleo é nosso”, que teve seu início da discussão no Clube Militar, ganhou as ruas; e os estudantes se mobilizaram, foram para as ruas; os trabalhadores, com os seus sindicatos, foram para as ruas; e o povo, enfim, criou aquela consciência nacionalista de que o petróleo brasileiro tinha de ser explorado pelos brasileiros. Daí aquela nossa bandeira de luta  “O petróleo é nosso”, tornou-se a palavra de ordem de todos os patriotas do Brasil.

Hoje, nós vemos o Brasil ameaçado pelo capital estrangeiro, em querer, por incrível que pareça, tomar conta da Amazônia; temos de estar alertas. Vou citar apenas, em poucas palavras, o que eles estão preparando para nós, o cerco da Amazônia, em relação ao denominado Cerco Militar da Amazônia Brasileira pelos Estados Unidos da América, aí seguem as seguintes evidências: presença militar na Bolívia e no Peru, base aeronaval no já dolarizado Equador, situado em Manta, na fronteira com a Colômbia, nesse conhecidíssimo Plano Colômbia, que os norte-americanos já afirmaram pretender ampliar para Plano América. Bases aeronavais em Aruba e Curaçau, junto ao litoral da Venezuela; base no Suriname e, ainda, base em Salvador, na América Central. Como se isso não bastasse, eles ainda estão de olho na base de Alcântara no Estado do Maranhão.

Nós devemos estar atentos que é fundamental, e que fique bem claro, que o mundo atual é dominado econômica e militarmente pelo império americano em processo de expansão. Contra ele opõe-se a resistência crescente dos povos do mundo inteiro, como evidenciado ficou na realização dos dois grandiosos e concorridos Fóruns Sociais Mundiais de Porto Alegre e a perspectiva de mais uma vez estar na história da humanidade derrotar o império do mal que nos querem impor goela abaixo. Fóruns como esses devem se tornar uma prática em nosso País, para debater questões nacionais relevantes como Amazonas, SIVAM, Calha Norte, energia, meio ambiente, soberania nacional, etc.

Quero agora falar a respeito da PETROBRÁS, já que estamos em pleno aniversário no dia de amanhã. Uma reforma. A PETROBRÁS, depois de ser conhecida no mundo inteiro como uma das maiores empresas petrolíferas, começou a ser desmontada já no Governo Collor. Uma reforma dos estatutos foi o pontapé inicial ao definir novas estruturas para diretorias executivas e conselhos de administração e das holdings subsidiárias do sistema PETROBRÁS. A tal reforma servia, na prática, a dois cardápios particularmente palatáveis ao apetite do neoliberalismo governante: 1- a franquia daquelas funções antes reservadas a detentores de experiência e amplo conhecimento do setor a cabos eleitorais e apaniguados em geral, desde que, claro, filiados a greis governistas contra essa ainda mais intragável e até repugnante para quem está faminto por justiça social e que conduz ao buraco negro dos interesses nacionais, é aquele caminho que, ao longo de décadas, os patriotas brasileiros souberam manter inacessível às tentativas de avanço do capital aventureiro e sem entranhas, o caminho do nosso ouro negro, patrimônio econômico e sentimentalmente imensurável para quantos vivem a saga da sua afirmação.

O petróleo, que a PETROBRÁS faz jorrar do subsolo pátrio para transformar em infinitas riquezas, vem, mais e mais, transformar e vai-se evasando por entre os dedos das mãos dos brasileiros. Um exemplo vivo e insofismável disso temos aqui bem próximo de nós: a Refinaria Alberto Pasquallini - da qual eu tive a honra de ser Chefe de Relações Públicas antes da minha cassação dos direitos políticos e da posição que eu tive que tomar em ir para o Uruguai, em me asilar fora do País, devido à perseguição política. A nossa Refinaria Alberto Pasquallini, a muito custo, conquistada pelo Rio Grande do Sul para plantar no solo gaúcho aquele símbolo da soberania nacional que outrora foi a PETROBRÁS, já não é mais plenamente brasileira, assim como dezenas de poços produtores de petróleo, os leiloados, outros arrolados como ativos, em troca a ex-nossa REFAP - ex-nossa REFAP - hoje, REFAP S.A., está hoje parcialmente alienada a uma multinacional, uma multinacional que - é óbvio, mas esta obviedade precisa ser frisada - só se preocupa com o lucro.

Já me referi ao cerco da Amazônia? Desculpem, vou fazer oitenta e quatro anos, pode ser que já tenha falado sobre o cerco da Amazônia. (Palmas.) Já, já falei.

Os militares. Eu dedico isso ao meu querido colega de farda, nosso Ver. Pedro, que tem o meu nome, é meu tocaio, o Pedro Américo Leal, mas é dirigido, também, aos nossos companheiros e todos àqueles quanto antes eram - não digo inimigos - contrários ao que nós atuávamos, ao que nós fazíamos. Os militares, hoje, sejam eles da ativa ou da reserva, estão empenhados em conjurar os perigos que envolvem cada dia mais a soberania da Nação. Para isso é que existem as Forças Armadas e que o povo as sustenta. As intolerâncias, as desavenças, as incompreensões passadas são superadas, meu querido Pedro Américo Leal, e desenvolvidas diante da ameaça que ronda a Amazônia. E V. Ex.ª, em muito boa hora, já lançou um slogan: “A Amazônia é nossa!” Assim como nós, no passado, lutamos com “O petróleo é nosso!” Eu me congratulo com V. Ex.ª.

O cerco à Amazônia nos preocupa. E estamos nos preparando, cada vez mais, para defendê-la. A selva nos une! A Amazônia nos pertence! Privatizar faz mal ao Brasil; aumentando a pobreza, enriquecendo uma minoria que explora a grande massa da população brasileira.

Por isso, meus senhores e minhas senhoras, eu não tenho palavras para agradecer. Tornar-me um Cidadão de Porto Alegre! Ser cidadão santanense já era uma honra. Ser Cidadão porto-alegrense é mais uma honra! Eu sei que isso se deve ao pouco que eu fiz para lutar em defesa do nosso povo que tanto necessitava de melhores dias.

Eu relembro o fato que ocorreu comigo na trágica noite de 31 de março, no dia que nós denominamos - desculpe querido amigo - golpe militar. No dia 31 de março eu estava na sede do meu escritório de relações públicas ali na Rua da Praia, porque a Refinaria estava em obras, e eis que me chega, na noite, o Dr. César Ávila, cirurgião conhecido em Porto Alegre, que tinha o Hospital Independência. Ele disse para mim: “Alvarez, vim te buscar”, eu disse: “O quê? O que é, Doutor?” Na prática, eu tinha ligação com os estudantes, estava rasgando os nomes dos estudantes, inclusive o do nosso amigo Ver. Isaac Ainhorn e de tantos outros, desmanchando qualquer indicação. Ele disse: “Não tem nada disso, a tua esposa e teus filhos já estão na minha casa, e tu vais baixar num hospital com outro nome.” “Eu, baixado?” “Tu vais para um hospital.” Aí o Carlos Contursi, que trabalhava comigo, que era muito amigo do Brizola, levou-me para um hospital. E lá vou eu dormir no hospital. Na manhã seguinte, a minha filha Tânia - que lá está, aquela bonita moça - levou-me uma roupa, e eis que, não sei como, a 2.ª Seção soube que eu estava naquele hospital. O Dr. César Ávila disse: “Não tem problema.” Colocou-me numa ambulância e me levou para o Hospital Petrópolis, do Dr. Del Arroyo. Lá fui eu para o hospital, de novo numa ambulância. Era para eu sair de Porto Alegre, mas estava difícil, porque havia uma relação, eu não sei qual era o meu número, mas tinha Prestes, Brizola, Jango, Fulano, Beltrano, e eu estava lá. Eu não podia seguir de ônibus, porque tinha que apresentar identidade, e o cara dizia: “Se consta da lista, está preso.” Diante das dificuldades, surgiu uma possibilidade. Um ferroviário, que era da esquerda, disse: “Não tem problema, eu vou para Santana do Livramento na quinta-feira, e o Coronel vocês levam para a minha casa na terça-feira à noite para não desconfiarem. Ele pousa lá e, na quinta-feira, ele vai comigo, ele vai junto. Eu sou o maquinista, ele vai junto comigo, ao lado, na máquina.” Eles até me deram um macacão e um gorro; eu hoje me arrependo de tê-los dado, deveria ter guardado. O fato é que, quando chegou na quarta-feira, véspera da viagem, ele chegou e disse: “Ah, entrou areia, não vai ser possível levar o Coronel.” Colocaram um outro cara ao lado do maquinista e desconfiaram, e agora? Aí me levaram para o hospital do Del Arroyo de novo. Lá estou eu no Del Arroyo, vai, não vai, sai, não sai, aí chega uma figura simpática, o Dr. Saul Messias, que tinha um serviço de traumatologia ali na Praça Júlio de Castilhos. O Dr. Messias era muito brincalhão e disse para mim: “Ô Alvarez, tu não tens algum parente parecido contigo?” Eu disse: “Eu tenho um primo, o Ulisses Martins, que mora na Getúlio Vargas, tem a cara redonda como eu, o nariz pequeno, mas, parecido, parecido...” Diz ele para a minha esposa: “Iná, vai buscar essa carteira.” Foi lá, trouxe a carteira. Aí ele disse para mim: “Despede-te do pessoal - isso era umas 11h da noite -, e o Coronel vai amanhecer em Rivera, no Uruguai, salvo de qualquer prisão.” Aí nos tocamos de carro. Quando chegamos em Pantano Grande - todo mundo diz Pantano, mas eu acho que o certo é Pântano, assim como tem a Ponte da Alemoa e deveria ser Alemã -, a patrulha do Exército parou o carro, com uma baita lanterna: “Alto lá!” Mas, antes disso, o Dr. Saul Messias me botou um gesso frio, como se eu estivesse com a perna quebrada, me deu um par de muletas, me botou umas gazes pela cara, e disse: “Tu tens algum médico conhecido em Santana do Livramento?” Eu disse: “Eu tenho lá no hospital o Dr. Hélio Viegas.” “Mas que tal ele é?” Eu digo: “Ele é da UDN.” “Ele vai te denunciar?” Eu digo: “Não, ele não vai me denunciar, porque eu fui instrutor dele quando ele foi convocado para a guerra, e ele é meu amigo, e é um homem sério e correto. Ele não vai me denunciar.” Então, ele fez uma transferência minha, do hospital dele para o hospital de Livramento. E nos tocamos de carro. Quando chegamos em Pantano Grande, a patrulha do Exército nos parou, um sargento grandão disse: “Vamos sair do carro.” O Dr. Saul Messias saiu e ele: “Abra o porta-malas.” Aí foi um soldado lá olhar a mala. “E você aí?” Eu estava com a perna quebrada, botei só a perna engessada para fora, e a muleta, e fiquei só olhando para o sargento. E o sargento olhava para mim, como o Carrion está me olhando. Eu olhava para o sargento, e ele olhava para mim. E aí ele diz assim: “O senhor não é o Coronel Alvarez?” Eu fiquei quieto. Aí ele disse: “Ô, cabo, acaba com essa revista, está tudo legalizado, o senhor está transferido para Livramento. Vamos rápido com isso.” Aí ele disse assim para mim: “Coronel, um abraço e um breve regresso, um abraço nos companheiros.” E lá me toquei eu. (Palmas.)

Passei para o Uruguai. Fiquei livre da tortura. Vivi num país onde havia liberdade, e quando regressei a este País novamente eu não podia trabalhar, e resolvi comprar uma peruca, que o Jango me pagou, porque eu não tinha dinheiro para comprar. O Jango disse assim: “Mas tu vais voltar para Porto Alegre com essa careca?” Eu disse: “Jango, eu não tenho dinheiro.” “Vai ver quem é que faz uma peruca boa e dá para o Alvarez.” Custou não sei quanto, e lá vim eu de peruca, com outro nome e entrei aqui.

Aí tentei contatos com os nossos companheiros da PETROBRÁS, com os ferroviários, e fazíamos umas reuniões, mas eu senti que não tínhamos condições de reagir a coisa nenhuma, que o troço estava perdido, que eles tinham tomado conta de tudo, não havia condições. Então, um dia resolvi tirar a peruca e digo: “Vou deixar esses caras me prenderem para ver que bicho vai dar.” Pois não é que eu estou passando na Rua da Praia e o jornalista que escrevia uma coluna, o J. K., que trabalha na rádio, disse assim: “Foi visto em plena Rua da Praia o ex-Coronel Pedro Alvarez, que está sendo procurado pela polícia e pelo Exército.” Ah, foi o bastante, chegaram e foram-me buscar, mas eles tiveram azar, eu já não era mais Coronel, estava demitido, e eles me mandaram um Major. O Major chegou muito constrangido e disse: “Coronel, eu vim aqui porque o General Justino mandou dizer que o senhor está preso.” Eu digo: “Olha, tu vais dizer ao General Justino que esse Coronel para mim não vale. Eu tirei o curso com ele, sou Coronel e não vou contigo a lugar nenhum, porque tu és Major, e se ele quiser que mande um mais antigo do que eu.” Aí veio um outro Coronel, muito constrangido também, e eu terminei indo. A minha esposa arrumou a escova de dentes, as coisinhas todas e lá me fui eu e fiquei preso.

Mas, aí, Coronel Pedro Américo, me trataram tão mal naquele 18 RI, mas tão mal, que eu nunca via a luz do sol. A minha mulher não sabia onde eu estava, o III Exército não dizia onde eu estava, e ela foi ao General Justino e ameaçou dizendo: “Se vocês não disserem onde está o meu marido, eu vou para a Rua da Praia dizer que o Exército seqüestrou o meu marido e que vocês são os responsáveis pela vida dele.” Foi o bastante. Ele mandou chamá-la e disse: “A senhora tem dez minutos, vá ao 18 RI que ele está lá.”

Eu fui mal tratado, eu nunca tive sol, fiquei trinta dias preso. Depois fui condenado a dois anos e quatro meses e, em vez de me levarem como Coronel, num quartel, e tendo o quartel por homenagem, que o nosso querido amigo Ver. Pedro Américo Leal sabe muito bem como é, me colocaram no porão da PE, era Capitão Piero Ludovico Gobatto. Era Capitão; hoje, é General. Eu ouvia à noite aqueles gritos e torturas e aquilo me irritava e eu ficava numa situação difícil. “Mas que coisa, o que é isso?” Nunca saí da prisão, até que um dia resolveram limpar as celas, e colocaram as celas no pátio, e tinha um rapaz moço, de uns dezenove ou vinte anos, todo triste, de cabeça baixa, com o corpo cheio de queimaduras de cigarro, aí perguntei para ele: o que estão fazendo contigo? “O senhor, à noite, não ouve uns gritos?” Eu: "Me revolto, mas não sei de onde é que vem.” “Pois eu estou acima da sua peça e lá eles me torturam, eles querem que eu diga aonde mora Fulano e Beltrano. Eu não sei, porque não conheço.” Aí, o que aconteceu? Eu perguntei a ele o que era. Ele respondeu-me que era estudante. Como é o teu nome? Marcos Pancier. Eu tenho boa cabeça, apesar dos oitenta e quatro anos, lembro bem direitinho Marcos, de Santa Catarina, estava em Porto Alegre e foi preso. Aí depois nos levaram para lá, eu estava atrás da grade do porão e passou o Capitão Piero Ludovico Gobatto. Perguntei alguma coisa a ele e ele me disse que não falava com comunista. “Então vai para pe, pe, pe”, e disse para ele. “Pá.” Foi o bastante. E aí eu, por minha própria vontade, pensei: como é que eu vou reagir a tudo isso? Fiz uma greve de fome. Fiquei três ou quatro dias sem comer. Agora vou contar um fato interessante. Havia um único tenente que me dizia: “Não faça isso, Coronel. É isso que eles querem, não faça isso, Coronel.” E eu louco para comer, traziam aqueles bifes com ovos, com batatinhas, etc. e eu derrubava com os pés para não comer. Fiz a greve da fome. Deu no jornal do Rio de Janeiro que o Coronel fez a greve da fome. Qual não foi a minha surpresa quando um ex-colega meu, que havia sido Deputado, como eu, do outro lado, mas um homem honrado como é o nosso Pedro Américo Leal, Coronel Perachi Barcellos, mandou o Coronel Almeida, que era da Secretaria de Segurança, disse: “Vai lá, pega o Cel. Alvarez e convida para ele ir para um quartel da Brigada.” Aí, eu saí dali, fui para um quartel da Brigada, fui tratado às mil maravilhas. Dizia-me o Coronel: “Coronel, o senhor aqui é nosso hóspede. O senhor tem o quartel como homenagem, ande por onde quiser. Traga uma televisão.” Eu não tenho televisão. “Traga uma televisão, a sua família pode vir nos visitar a hora que o senhor quiser.” Quando a luta armada se iniciou, para minha surpresa, ao ler o jornal, vi uma foto do Capitão Carlos Lamarca, que era o tenente que me estimulava a comer.

Lá, então, fiquei eu noventa e oito dias, porque tinha sido condenado a dois anos e oito meses. Mas, o meu advogado, um brilhante advogado, meu querido amigo, Dr. Eloar Guazelli, foi quem me tirou, quem me salvou. E o nosso amigo leu o que disse um juiz a meu respeito, quando me absolveram por sete a cinco: “É lógico que, dos militares, cinco votos foram contra. Só um militar votou a meu favor, que foi o Gen. Peri Bevilaqua. O Grumós, chamavam ele de “Melo Maluco”, era um Coronel da aviação. Grumós, enfim, eram todos oficiais de direita, o único voto, e eu fui absolvido. Aí, fui absolvido, fui para casa. Depois, quis trabalhar. Ah, trabalhar, mas de que jeito? Onde eu ia, me tiravam! Aí, tinha a COHAB, a Cooperativa Habitacional, aqui em Porto Alegre, que era o meu amigo Wilson Eichenberg. “Alvarez, sei que tu tens quatro filhos, tu estás precisando. Tu não recebes nada do Exército e nada de parte alguma, tu precisas trabalhar! E eu tenho um lugar para ti: tu vai ser meu vendedor.”

Eu fui o maior vendedor de apartamentos, aqueles apartamentos perto do Olímpico. Aqueles, todo mundo dizia: “Vou comprar do Alvarez, que está precisando.” Então, eu fui o maior vendedor! Aí, ele me botou de chefe de vendas. Aí, o Gen. Justino me chamou no quartel e disse o seguinte: “Tu tira esse camarada daí, ou então, tu vai para fora, tu vai ser demitido da COHAB.”A COHAB era a Cooperativa Habitacional do Rio Grande do Sul - COHAB-RS.

Aí, o Wilson não queria sair e eu digo: “Faz o seguinte: eu saio, tu fica.”

Aí, eu tive um professor, com o qual fiz álgebra, tirei média 9,80, era o Cel. Telino Chagas Teles, presidente do GBOEx: “Não, Alvarez, tu vai vender os nossos carnês aqui.”

Então, naquela época, eles abriram. Eu fui o maior vendedor. Eu dei uma sugestão ao Maurício Sirotsky Sobrinho: “Sirotsky, faz o seguinte: dá de presente de Natal um título do GBOEx para todos os teus funcionários. Depois, quem quiser continuar, paga a sua mensalidade, quem não quiser bota fora.” Ali eu ganhei mais do que dois ou três generais juntos. E ainda ele me deu uma carta de apresentação para a TV Nacional. Lá fui eu para o Rio, consegui a mesma coisa: faturei de novo. Aí veio o Costa e Silva, que era Ministro, disse que me tirassem daquilo ali, porque senão iam tomar providências contra o GBOEx. Então, eles não me deixaram trabalhar. Essa é a realidade.

Mas o que quero dizer, para finalizar, porque sei que estou abusando da boa vontade da nossa Mesa, meus querido companheiros, todos os Vereadores a quem eu admiro, não me interessa o partido: Vamo-nos unir, vamos lutar em defesa deste País tão rico e que tem um povo tão pobre, porque o imperialismo norte-americano nos explora. Tenhamos a coragem de transformar o Brasil em um verdadeiro Brasil dos brasileiros. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Nereu D’Avila): Sr.ªs e Srs., comunicamos que o Presidente José Fortunati precisou se ausentar porque outra solenidade está se realizando nas dependências da Casa e nós nos sentimos honrados em poder finalizar este ato, onde foi concedido um Título a um cidadão com todos os predicados já conhecidos e, emocionalmente, explicitados da tribuna, o que é uma parte da nossa história. Ao Cel. Pedro Alvarez os nossos cumprimentos e a nossa satisfação.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h36min.)

 

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